Há quem lhe chame um carro do diabo. A potente viatura com que o padre António Rodrigues se desloca entre os vários compromissos que tem em diferentes freguesias causa espanto por onde passa e é motivo de conversa entre os paroquianos. Veio directamente da Alemanha e é um exemplar único em Portugal.
O carro do padre Rodrigues é único a circular nas estradas portuguesas, porque “reúne duas condições essenciais”, a “exclusividade” que o ajuda a aproximar-se dos jovens e os seus 150 cavalos que lhe garantem não chegar atrasado aos compromissos religiosos. O ar agressivo que o “super carro” ostenta não esconde a sua capacidade para queimar quilómetros como poucos, e o padre Rodrigues não esteve com “meias rezas” e mandou-o vir da Alemanha porque não existia no mercado português, mesmo sendo obrigado a esperar quatro meses para lhe sentir o poder. O Fiesta 2000 ST, de 150 cavalos, é o topo de gama desde modelo da Ford, que António Rodrigues, de 42 anos, conduz pelas estradas das paróquias de Óvoa, Couto de Mosteiro e Pinheiro de Azere, no concelho de Santa Comba Dão.E é a sua garantia de que os horários das três missas das manhãs de domingo “são rigorosamente cumpridos”, mesmo que as distâncias a que se encontram levem a pensar ser essa uma “missão impossível”. Em Portugal existem apenas três carros deste modelo, que não é usualmente comercializado no país, mas o do padre Rodrigues é o único a circular nas estradas “civis”, porque os outros dois só podem ser encontrados nas competições, nas etapas dos ralis a “sério”. Quando foi encomendar o “bólide”, logo o concessionário da marca o informou que seria o “único em mãos particulares” no país, condição que o padre Rodrigues utiliza, também, no serviço pastoral que presta, porque, como explica o próprio à Agência Lusa, “permite uma aproximação aos jovens” que, “naturalmente” gostam de falar sobre a máquina e as suas características. “Porque é um carro que prima pela exclusividade e os jovens têm um fascínio por estas máquinas, é verdade que facilita a conversa, gera a aproximação e isso é de grande importância na missão pastoral de um padre”, sublinha.“É único”O pároco lembra, contudo, que “há muitos padres que têm, também, grandes bombas”, mas admite que, “mesmo sendo grandes carros, não deixam de ser vulgares”, ao passo que o seu não permite dúvidas: “É único”. Mas é “essencialmente” uma “ferramenta de trabalho” que lhe permite dar resposta “a tempo e horas” aos muitos compromissos que tem diariamente ao serviço das três paróquias, não só as missas mas também no apoio social e nas organizações que integra, como são disso exemplo os “convívios fraternais” de âmbito diocesano. “Há alturas de trabalho muito intenso - aos domingos tem missas de uma hora cada, em três localidades diferentes, às 9h00, 10h15 e 11h30, e ainda pessoas para atender no final de cada serviço religioso - para as quais um carro rápido e seguro é uma boa resposta”, diz. E lembra também que a rapidez com que executa estas tarefas “permite igualmente ter tempo para a oração”.O padre Rodrigues releva ainda que, “caso contrário, o sacerdote, se não tiver tempo para a oração, pode cair numa espécie de activismo contínuo, relegando para segundo plano a essência daquilo que é, descaracterizando o sacerdócio”.Uma das razões para ter optado por conduzir um carro com estas características é a “realidade do mundo rural”, onde a pontualidade “é fundamental” para um padre, estando esta pontualidade “directamente ligada, nas referências do povo, a uma disciplina de vida sob a qual o sacerdote é avaliado”. António Rodrigues não teme que lhe apontem o dedo por ter um “super carro”, porque as pessoas, “nos dias de hoje”, já têm outra forma de encarar estas coisas, mas admite já estarem mais atentas “ao comportamento moral”, onde surge incluída a pontualidade e o rigor na assumpção dos compromissos com os seus paroquianos.“Um padre não é apenas avaliado negativamente por falhas pontuais nesses compromissos, mas estas têm mesmo de ser pontuais”, refere, adiantando que as muitas exigências a que está submetido enquanto gestor religioso de três paróquias “muito dificilmente permitiriam que as falhas nos horários fossem apenas pontuais” se não conduzisse um carro “rápido e seguro”.Para o padre António Rodrigues, quando nas estradas das suas paróquias montado nos 150 cavalos e nos 2000 centímetros cúbicos do seu “bólide”, os momentos em que retira mais proveito de tanto poder de tracção é nas ultrapassagens, porque “as curvas são muitas e as estradas estreitas”.
in Primeiro de Janeiro
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